Testemunho do último retiro de homens do ALP

12-07-2019

Tenho participado em todos os retiros de homens do Projecto Vida Desperta, desde há 5 ou 6 anos, e todos eles têm sido poderosos e surpreendentes, a vários níveis. Mas o último em que participei ultrapassou todos os outros, muito para além de quaisquer expectativas. Mas o que é que um retiro de homens pode ter de tão especial? É isso que eu irei tentar expressar por palavras de seguida...

Sem dúvida que um dos aspectos mais importantes desde o início deste grupo tem sido a entrega e orientação do Pete! A forma atenta e cuidadosa como ele prepara e lidera os retiros, pondo ao serviço a sua experiência e mais profunda compreensão e intuição, é constantemente uma fonte de inspiração. Principalmente pela forma como, cada vez mais, coloca os ensinamentos que nos transmite em prática. Já conheço o Pete há 9 anos, desde então tem sido o meu professor espiritual e não pára de se transcender e de me surpreender. E no fundo é esse o papel de um mestre, de nos mostrar que uma outra realidade é possível aqui e agora, para além das nossas ideias, limitações e condicionamentos, e de que, em última instância, não dependemos de nada, nem de ninguém, para vivermos uma vida livre, alegre e espontânea...

Um outro aspecto que se tem revelado cada vez mais poderoso nestes retiros é a possibilidade de passar tempo de qualidade com outros homens. Vivi uma boa parte da minha vida a sentir-me mais confortável em me abrir, em ser vulnerável perante uma mulher do que um homem. Consegues relacionar-te com este comportamento? E o que está por detrás disto? Bem, em primeiro lugar a nossa cultura não apoia a sensibilidade e vulnerabilidade nos homens. "Sê forte como um homem!" ou "Os homens não choram!", se és homem já ouviste certamente estas expressões várias vezes. Mas será assim que queremos viver? Quanto mais me permito sentir e expressar o que verdadeiramente está vivo em mim, não só me sinto mais livre e confiante, como me sinto também mais próximo dos outros, sejam eles homens ou mulheres. E algo que se tornou ainda mais evidente para mim neste retiro, foi que o Amor está sempre presente! Não me refiro a um amor emocional ou sexual, falo de um amor que transcende a mente, as emoções e os sentidos. É como uma suave brisa que surge de repente e nos inunda com a sua requintada fragrância, com uma inocência, frescura e completude de algo que é familiar, mas também sempre novo... Este Amor de que falo é ao mesmo tempo a revelação da beleza e profundidade da comunhão com o outro, como que o levantar do véu do verdadeiro potencial do relacionamento, bem como também o reconhecimento da derradeira União,  a constatação de que a separação entre mim e o outro não é real. Quando este aparente paradoxo se desfaz, e isso não acontece através da mente, mas sim pela simplicidade de uma profunda entrega e relaxamento, ao olhar para os olhos de um "outro", vejo-me apenas a mim, pois nada mais existe! Este é um Amor que existe para além do género, que está sempre presente e que se revela quando deixo de impôr o que "eu quero", o que "eu sinto", ou o que "eu penso", para então descobrir o que já é Real...

O outro aspecto que gostaria de referir neste pequeno testemunho, refere-se à forma como se foi desenrolando todo o retiro. Para além dos momentos em que nos entregamos a diversas práticas espirituais mais tradicionais (como meditação e silêncio, auto-questionamento, exploração em grupo, etc.), houve também momentos não tão estruturados de diversão e relaxamento, passeios na natureza, convívio e partilha. A presença de estes aparentes opostos num mesmo retiro, tornou-o ainda mais real e próximo da vida do dia-a-dia. Agora que estou de volta à "complexidade da vida após o retiro", sem dúvida que me sinto mais desafiado em certas alturas (por exemplo na interação com os meus filhos, ou mesmo com o meu pai), mas há algo que se mantém intacto, independentemente do que estiver a acontecer. O reconhecimento mais profundo e inequívoco de quem sou verdadeiramente, para além da minha identificação limitada com os pensamentos, sentimentos e emoções. E continuam a haver momentos em que este reconhecimento não é aparente, em que eu ajo de uma forma egóica e a partir de um ponto de separação. Mas mais depressa consigo ver as coisas com clareza e tomar responsabilidade pelas minhas acções. E é aqui que reside a verdadeira libertação, ao ver com clareza o que é Real e agir em consciência, a partir da minha mais profunda compreensão e experiência.