Limpar as Águas
Hoje foi de dia de limpar o sistema de tratamento das águas que saem da minha casa. Para quem não conhece, é um sistema orgânico no qual são usadas plantas depuradoras, cujas raízes limpam os resíduos das águas cinzentas (cozinha e wc) e negras (sanita). Como facilmente podem perceber, é um trabalho de "merda", literalmente! Apesar de não estar no topo das minhas preferências, para ser sincero até não me importo muito de o fazer, pois não só é necessário, como também vai permitir continuar a trazer adubo para as árvores de fruto.
Mas porque raio é que estou a partilhar isto aqui hoje? Pois bem, quando estava a fazer limpeza das "águas externas", de repente fiz o paralelismo entre estas e as minhas "águas internas", ou seja, as minhas emoções. Para quem ainda não sabe, a Teresa e eu já não somos um casal e os últimos meses têm sido uma autêntica montanha russa, com grandes desafios e mudanças. E uma coisa que se tem tornado cada vez mais clara para mim, é como a nossa sociedade não nos ensina a lidar e assumir verdadeira responsabilidade pelo nosso lado negro, conhecido ou desconhecido, da mesma forma como a maioria de nós não tem que lidar com o seu próprio lixo.
Então o que acontece é que crescemos habituados a deitar "fora" o lixo no caixote, ou a despejar as águas negras na sanita, sem ter a mais pequena ideia do que envolve ter que lidar com elas. Mas na verdade não existe um "fora", pois alguém vai ter que lidar com tudo aquilo até ir parar ao quintal de um outro alguém. Este não saber, ou não estar interessado neste processo, é uma das principais causas dos desequilíbrios biológicos, mas também humanos, que a nossa sociedade dita "civilizada" continua a enfrentar.
Com as nossas emoções, traumas ou hábitos inconscientes passa-se exactamente a mesma coisa, se não tivermos o interesse e a coragem de querer ver, lidar e resolver, nunca se tornarão conscientes, pelo que iremos continuar a "despejá-los" para cima de alguém, normalmente as pessoas mais próximas de nós, e causar dor e sofrimento a essas pessoas, mas também a nós próprios.
Muito do que tenho enfrentado em mim nos últimos meses, não tem sido agradável, nem algo de que me orgulhe. Não foi fácil largar o sentimento de culpa pela separação, muito menos aceitar que a vida agora é bem diferente. Mas é esse o poder de termos a coragem de lidarmos como os nossos demónios, ou as "nossas merdas", a capacidade de lidarmos com as consequências das nossas acções, conduz-nos a levar a cabo uma profunda transformação, que nos permite vermos o mundo, os outros, e as nós próprios com outros olhos!
Vivemos tempos de grande turbulência externa e interna, que não são mais do que avisos que de muitas coisas têm que mudar. Quanto mais resistirmos a essas mudanças, maior o sofrimento pelo qual iremos passar. Por isso se esta partilha ressoa contigo e também tu sentes que precisas de mergulhar fundo em ti e fazer um trabalho de "limpeza", não resistas e não adies, começa-o quanto antes e lembra-te, não estás sozinh@...