Como começa a Paternidade?

19-02-2023

    Enquanto que algumas pessoas sempre sentiram vocação para ser mães ou pais, outras nunca pensaram muito no assunto, e outras ainda sempre souberam que nunca o iriam ser.  Mas será que este é um papel que devemos desejar, ou para o qual nos devemos sentir necessariamente preparados, ou poderá acontecer sem ser planeado e mesmo assim tornar-se numa benção? Não creio que haja uma resposta absoluta para esta pergunta, mas acredito que tudo pode acontecer, pois na verdade é isso mesmo que tem acontecido comigo!

Nunca desejei ser pai, talvez por nunca me sentir muito atraído por estar com crianças, mais do que talvez alguns momentos, ou talvez porque nunca me achei capaz de vir a ser um bom pai. Consigo reconhecer hoje que, para além da minha preferência pessoal, também o forte condicionamento português de me achar pequenino, de não me achar capaz de educar e suprir as necessidades de uma criança em crescimento, sempre me mantiveram afastado desta possibilidade. Até um dia...

Lembro-me perfeitamente do momento, estávamos em Dezembro de 2011, a poucos dias do Natal, quando cheguei a casa dos meus pais e a Teresa me pediu para ir à casa de banho, ver o resultado do teste de gravidez que tinha acabado de fazer. Com bastante medo, mas ainda com alguma esperança de que pudesse ser negativo, lá fui eu. Para meu total espanto e quase terror, o resultado dera... POSITIVO!

Durante um bom período de tempo, acho que estive em estado de choque, a tentar negar a situação, a sugerir que ela fizesse mais testes, enfim, a querer a todo o custo que o tempo voltasse para traz para tentar reverter esta situação. A possibilidade de abortar foi obviamente discutida entre nós, uma vez que não tinha sido uma gravidez planeada, e eventualmente ambos decidimos avançar com o processo.

 Confesso que até cerca do 6º mês de gravidez ainda alimentava interiormente a ilusão de que algo poderia acontecer que "me libertasse deste triste fado", e de alguma forma continuava a negar o inevitável, de que em breve iria ser pai. Mas a certa altura, finalmente lá decidi enfrentar a realidade (muito pela constante pressão positiva da Teresa para eu acordar para a Vida) e começar a preparar-me para o grande dia, o dia do parto (sobre este dia irei escrever um outro post em breve, pois foi de facto transformador para ambos e a história merece ser contada).

Diria que terá sido com esta mudança de postura que o processo de Paternidade começou para mim. Para a Teresa, o processo de Maternidade havia começado mal ela soube do resultado. E reconheço que ela o abraçou com todo o amor e entrega, não só procurando aprender com a experiência de outras pessoas, como também ao abrir-se ela própria a sentir o crescimento de um novo ser dentro dela, bem como o processo de maturação enquanto Mulher, que estava prestes a acontecer! Mas se para a mãe é mais fácil sentir o seu corpo a transformar-se, sentir o coração de um novo ser a pulsar dentro de si, para um pai a relação é geralmente mais distante, por vezes quase imperceptível, a não ser que nós homens façamos realmente um esforço.

E foi isso que a certa altura comecei a fazer, para além da participação activa nas aulas de preparação para o parto (eu divertia-me bastante a fazer os exercícios juntamente com as outras grávidas), interessei-me também em ler sobre os progressos no crescimento do feto a cada semana e a querer saber mais sobre a sua experiência enquanto mãe. Mas o mais importante, terá sido mesmo o começar a desenvolver uma relação mais íntima com o meu filho, ao tentar ouvir o batimento do seu coração, ao sentir os seus movimentos na barriga da mãe, ou mesmo ao começar a tentar comunicar com ele.

Um outro momento significativo foi quando ficamos a saber o sexo do nosso bebé, numa visita à maternidade onde a Teresa estava a ser seguida. Acho que ambos tínhamos a intuição de que seria uma menina, mas quando a médica disse que era um menino, internamente, e sem pensar, eu disse "Yes"! Ainda hoje não percebo bem o porquê de tamanha satisfação, mas cada vez mais me sinto abençoado por ser pai do Miguel e por ele me continuar a trazer tanto (desafio, alegria, amor, carinho, cuidado, apoio, e tanto mais...)

Olhando para trás, e passados mais de 11 anos desde que o Miguel anunciou a sua vinda até nós, reconheço que a paternidade tem sido, e irá certamente continuar a ser, uma grande benção, que não só tem contribuído e muito para me tornar um melhor pai, mas também um melhor homem, companheiro e amigo. A presença, exigência e alegria constante dos nossos filhos, tem o potencial de transformar radicalmente a forma como vivemos a Vida, trazendo muito mais propósito e significado às nossas escolhas, todos os dias. Por isso se ainda não pensaste em ser Pai (ou Mãe), espero que esta partilha te deixe pelo menos mais curioso, em descobrir o que poderá apoiar melhor o teu crescimento enquanto homem, bem como o da tua família...